Reportagem de FABIO BRISOLLA (RJ)
para Folha de São Paulo, publicada em 17 de fevereiro de 2013.
foto de Vinicius Lima, 19 anos, usa o laptop da irmã na favela da Rocinha Créditos: Daniel Marenco (Folha Press)
Nove entre dez moradores de favelas cariocas, com menos de 30 anos,
acessam a internet. A maioria utiliza o computador de sua própria casa. Quando
conectados, os usuários priorizam redes sociais, como o Facebook.
As constatações citadas são parte de uma pesquisa com residentes, de
idades entre 15 e 29 anos, de cinco áreas de baixa renda: Rocinha (na zona
sul), Cidade de Deus (na zona oeste), Manguinhos e os complexos do Alemão e da
Penha (na zona norte).
O levantamento, baseado em 2.000 entrevistas, foi produzido entre os
dias 17 e 22 de dezembro de 2012 para o projeto Solos Culturais, uma parceria
da Secretaria Estadual de Cultura com a ONG Observatório das Favelas.
Segundo os pesquisadores, a adesão à internet desta parcela da
população sinaliza que estão ocorrendo mudanças.
"O cidadão invisível na rua aos olhos da sociedade consegue ser
reconhecido em redes sociais como o Facebook. O excluído está alçando
virtualmente sua visibilidade. Isso é uma revolução no imaginário da
cidade", avalia Jorge Luiz Barbosa, professor do Departamento de Geografia
da UFF (Universidade Federal Fluminense) e diretor do Observatório das Favelas.
Ele acredita que a internet pode estabelecer laços até então pouco explorados.
"O garoto da favela posta um vídeo com passos de funk no YouTube
que acaba sendo visto pelo menino do condomínio de luxo. Estes cruzamentos
culturais permitem a esperança em uma sociedade mais generosa com suas
diferenças", diz Barbosa.
Além de marcar presença em redes sociais, os internautas entrevistados
costumam baixar músicas, além de armazenar fotos e vídeos.
O acervo pessoal criado por cada usuário é citado também como algo
inédito.
"Antes, uma pessoa de classe baixa não tinha condições de comprar
uma máquina fotográfica. Hoje, qualquer celular tira foto, o que possibilita a
construção de uma memória que por muitas gerações não existiu", avalia o
diretor do Observatório das Favelas.
A pesquisa vai resultar no livro "Solos Culturais", que será
lançado até o fim do mês.